Tinha medo de palhaços.

*um rascunho que não consigo terminar, sinta-se à vontade para continuar nos comentários!*

Uma versão desconhecida, que gosta de violência e sangue.


Uma freada brusca e a porta do ônibus se abre. Ela entra, passa pela roleta e senta ao meu lado, ainda ofegante. Observo o movimento do seu tórax ritmado com a respiração alterada. Vestindo uma camiseta preta, que salientava seus mamilos eiriçados, e uma calça, daquelas bem apertadas - como é mesmo o nome? - ela me captura, mal consigo disfarçar. Ao admirar aqueles seios firmes e arrebitados minha mente começa a fantasiar, imagino-me violando-a ali mesmo, rasgando sua blusa com as mãos, abocanhado-a, sugando forte, um mamilo por vez. Ela gosta disso. Jogo-a no chão do ônibus, corro as mãos por sua cintura, desço mais um pouco e arranco-lhe as calças, seus pelos ralos me excitam ainda mais, pego uma garrafa e introduzo-a em sua vagina enquanto minha mão esquerda permanece em seu seio, agarrando-se a ele como de fosse a última coisa a ser tocada.. Ela urra de dor, sangra... Parece que essa minha aquisição perdeu sua inocência para uma garrafa.

F.L. [acrônimo para Fucking Liar]

Há entre mim e o mundo uma névoa
que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são
— como são para os outros.
Sinto isto.
F.P.

Talvez meu maior defeito seja sonhar demais, acabei me aprisionando neste mundo onírico e não consigo mais distinguir entre realidade e fantasia. Afundei-me em personagens criadas para satisfazer necessidades ilógicas e já não encontro o caminho de volta ao meu eu. Eis que a verdade está à porta e bate, eis que o vento da sinceridade sopra. Violentamente. A face deve estar preparada para a vida, que com uma tapa desfacelará este castelo de mentiras.

Sonata para Piano nº11.

Acompanhado apenas por Mozart, imaginando-se num filme mudo percorria o caminho de volta para casa com o andar cambaleante e caretas eutrapélicas, direcionadas as personagens de sua mente. Pensava no que lhe fora cobrado e ensaiava em sua cabeça textos românticos, felizes. Não conseguia pôr as ideias em ordem. Pensava na aliança que usava no anelar direito. Eis sua inspiração!
Não há neste mundo, símbolo mais significativo ao amor que uma aliança, um laço eterno, infindo. Sem começo ou fim, como a nossa história que, antes de ser, já era! Os sonhos de construirmos juntos uma família, sermos um só para toda a vida são parte de um destino pré-formatado onde somos autores e protagonistas de nossa bela, e acidental, história de amor.
Infelizmente, ao chegar em casa, esqueceu-se de tudo que pensara no caminho, finalizou-se a sonata e caiu, já inconsciente aos pés da cama.

Psicose.

A mente fervilhava, parecia querer explodir, mostrar ao mundo a importância do sonhar. Mas ele apenas caminhava, com seus fones nos ouvidos, a música, mesmo no mais alto volume, era inaudível tamanha baderna em sua cabeça, discutia consigo mesmo, tentando organizar sua algazarra interna. Ao escutar o trompetista da praça acalmou-se um pouco, ensaiou alguns passos, equilibrou-se na ponta de um pé e girou o corpo, pousando com certo desequilíbrio, rindo-se, enquanto era observado pelas pessoas que seguiam seu caminho rotineiro. Deviam pensar que era louco.
Retomou seu caminho, despedindo-se  com um gesto teatral. Observava tudo sob uma nova ótica, as ruas, as pessoas. Duas em particular lhe chamaram a atenção, primeiro, o vendedor de flanelas, conhecido pelas sonoras gargalhadas e por, nos últimos meses, contar vantagem por "estar grávido" com sua esposa, hoje abrigava um olhar triste, vazio. "Será que algo aconteceu à criança? Ou será que foi com a esposa?". O mais triste era notar que ninguém mais percebia a tristeza incomum daquele jovem.
Sua cabeça voltara a ferver com as inúmeras possibilidades (in)imagináveis para cada rosto que fitava enquanto percorria o trajeto para o trabalho. Ao atravessar a Av. Rio Branco, rua movimentada do Centro, deparou-se com uma moradora de rua frente à estação da Carioca, usuária de entorpecentes - dizia com certeza pois segurava em sua mão direita uma cachimbo de pedra (de crack) - na mão esquerda segurava um grande paralelepípedo, olhava para ele fixamente, como se estivesse esperando respostas para suas perguntas não feitas. Mais uma vez inquietou-se com o olhar apagado e sem vida daquela mulher e pensou consigo "Não é possível que ninguém mais perceba o quanto ela está perdida", mas era possível, as pessoas que a notavam ali, sentada no chão, direcionavam a ela apenas olhares reprobatórios, cheios de asco e soberba, sentindo-se superiores em seus ternos e saltos.
Hoje Pedro não tinha pressa, caminhou tranquilamente, como se fosse a primeira vez, bateu continência ao Almirante e atravessou-o, sentindo sobre si os olhares e ouvindo gritos de "Louco!".
Em sua cabeça.

Compreensão.

- A sabedoria de um ser humano não é definida pelo quanto ele sabe, mas pelo quanto ele tem consciência de que nada sabe...

Nossa existência é permeada por métodos, normas e rotinas as quais nos submetemos para fazer parte de um contexto maior - a sociedade. Sociedade esta que execra aqueles que teimam em mostrar algo significativo, os que priorizam o sentir ao ter, os que são ricos de espírito - marginalizando os sentimentos sinceros e valorizando, cada vez mais, as atitudes e comportamentos levianos. A inversão de sentidos torna-se mais e mais evidente aos olhos daqueles que procuram manter a essência intacta - o mal é instigado, desejado e o bem, corrompido. Não levanto a bandeira do "eu sei sentir", mas tento sentir sem intervenção do ambiente externo, procuro observar tudo sob a ótica de uma criança, cujo sentir ainda não foi anestesiado pela superficialidade na qual nos encontramos imersos. Parafraseando Saint-Exupéry - o invisível é essencial aos olhos - ouso complementar - mas pode ser sentido pela alma.

Amor em primeira pessoa.

Eu amo.
Tu amas.
Me amas.
Minha ama me ama, me encanta, bacana, na cama.
Derrama.
O leite do peito.
A manha.
Amanhã.
Sem desfecho.

Fluidez.

Quem foi que disse que o poeta precisa ser triste?
E quem disse que atrás de tanta felicidade não existe tristeza?
Aliás, felicidade e tristeza são sentimentos tão relativos, às vezes me pergunto se realmente existem ou se são invenção nossa, afinal, temos esta mania insuportável de dar nome a tudo.
O que eu sinto, muitas vezes, não cabe no peito, e sinto esta necessidade absurda de extravasar. Por que nomear os sentimentos? É dezenas de vezes melhor senti-los, apenas.
Desculpa a falta de sentido, de linearidade.
Às vezes é melhor se expressar sem métodos paliativos.

Infindo.

Amor não se pede,
e quando se dá
nem sempre se recebe.
Eu tirei sorte grande
ganhei um amor pra toda vida.
Mesmo que seja apenas a minha.

Ele veio e eu não quero que vá embora.

Fidúcia.

Don't you hear sincerity in my voice when I talk?

Às vezes temo que a aversão que nutro por certas pessoas transpareça no olhar,
escape à língua, se faça
palpável.
É evidente,
clara,  (des)motivada,
 veemente. Braseia meu espírito e o abandona através de palavras mordazes.

Cianeto.

Seu tórax comprimia-se na esperança de expelir todo aquele ar venenoso de suas entranhas, podia sentir a pressão nos pulmões, nos olhos. As extremidades de seu corpo frágil adormecendo, o gosto salgado (tão familiar), os movimentos lentos. E a mente, fervilhando em teorias e possibilidades, infinitas. O corpo respira, clama por alimento: a alma. Estica-se no divã, toma para si a gravata do Eduardo, a enrola em volta do pescoço e puxa com força. Oxigênio não chega a seu destino, todo o corpo formiga pouco antes de perder a consciência. Mais uma vez amor.
Mais uma vez.

Chorume.

Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?

Não era como a outras.
Definitivamente não.
Crescia vistosa, apetitosa.
Olhares, não raros, pairavam sobre sua suculência.
Neste momento final,
só restava a recordação dos olhos sujos sobre si.
A latência foi excessiva, o tempo de maturação, excedido.
A casca não mais esconde, a fruta apodreceu.
Enfim a colheita.
E o descarte.
Ela já não serve mais.
I searched for truth
And all I found was You
My God I'll only ever give my all
Jesus I'm living for Your Name
I'll never be ashamed of You
In my praise
In all I am today
Take, take, take it all
... parece besteira gostar tanto assim de alguém, mas pra ser amor só pode ser com nós dois...

Não é mais segredo.

Não era segredo que gostava de escrever e que suas personagens eram partes fragmentadas de sua personalidade instável. Todas apresentavam aqueles aspectos comuns: tristeza, solidão e a ânsia pela tão desejada liberdade.
Ela sempre sabia o que suas personas deveriam fazer, encontrava soluções, opções, vias de fácil escape, tentando incansavelmente descobrir maneiras de escrever seu próprio futuro, afinal.
Sonhava com o amor, embora o negasse até o fim, buscava-o e ao encontrá-lo, por medo, desfazia os laços. Manteve-se assim, emocionalmente promíscua, durante muito tempo, tempo demais. Aproximações por parte dela tinham sempre interesses momentâneos... Supria suas carências afetivas com breves momentos desfrutados ao lado de estranhos, sentia-se superior por não se deixar apegar, não estabelecer vínculos.
Mas toda boa história merece um porém. Ela era madura e autossuficiente, mas se apaixonou. Era intocável, indomável e agora dobrava-se ao amor.
De onde vem tanto amor? De onde quer que tenha vindo, é agora bem-vindo.
Libertador, abjugou-a da solidão, desatrelou a tristeza costumeira, e ao prendê-la, o que ela espera ser para sempre, fê-la provar o doce e desejado gosto de liberdade.


"Acho que no fundo ela sabia.   
Ela, era eu."

Ah, o amor...

Tudo o que eu evitei, durante tanto tempo, é agora o que me faz abrir os olhos pela manhã. Foi difícil pra eu admitir isso, mas o amor também me pegou. A verdade é que, mais dia, menos dia, ele vai pegar a todos nós. Uns para sempre, outros, de uma maneira tão fulminante que, tudo o que deveria acontecer em uma vida, acontece em poucos dias. Espero que comigo seja para sempre.
A sensação que ele provoca é mágica. O prazer que o amor me causa é justamente esse: a felicidade do outro me deixa mais feliz que a minha própria. Mas também não são só flores. Existe o ciúme, de tudo, dos amigos, dos parentes, da sombra. Ciúmes até de quem o abraça, porque, por um momento, alguém está segurando o meu mundo inteiro. 
É difícil comportar o coração no peito em tempos como esse, porque pior do que carregar um coração partido, é carregar um coração apaixonado. Porque o partido dói, simplesmente. Por mais insuportável que seja, ainda é apenas dor. Já o apaixonado não; ele pára, dispara, diminui de tamanho, fica apertado e também dói; de repente fica enorme, não cabe no peito, faz querer gritar e pede, implora por presença quando tudo o que se tem é a ausência.
A distância é o mal do século, pelo menos pra mim. A distância que me separa da minha outra metade, da pessoa que me completa, que me tortura todas as noites por não tê-lo comigo. Ela intensifica tudo, tanto as emoções boas quanto as ruins. A sensação de impotência, quando você ouve um "Queria você aqui comigo." e não pode estar junto, tudo isso complica. A distância implanta dúvidas terríveis, sobre tudo e todos. A gente nunca sabe se vai dar certo, nós simplesmente arriscamos. Certeza é pra gente que não ama o suficiente.
Os obstáculos são incontáveis, mas servem de estímulo. A paixão aumenta em função de tudo aquilo que se opõe à ela. A monstruosidade do amor consiste na infinita vontade, nos desejos ilimitados, controlados pelo limite. 




É, ele me pegou também.
 Retirado daqui.

I have a dream and in this dream...

Não uso roupas da moda, não tenho vícios da moda, não sonho os sonhos da moda, não faço as escolhas da moda nem ouço as bandas da moda. Não gosto dos lugares comuns, badalação me incomoda, não faço questão de ser diferente, pois ser diferente também está em voga.
Eu quero uma vida mais simples, ser acordada pelo sol, andar com os pés descalços na terra úmida de orvalho. Pegar fruta do pé, correr atrás de uma garotinha de cabelous louros, deitar num jardim gramado sem me preocupar se estou sujando a roupa, escrever sobre a felicidade transbordando do peito.
Às vezes eu sonho demais.

Morte súbita.

Vivia.
Consternada em solidão.
Acostumada, desolada.
Não imaginava encontrá-la, tão gentil.
Quase compreensiva.
Não esperava encontrar o amor
do qual havia há muito aberto mão.

Agora Sofia sonhava.
Viagens com ela.
Casa, quatro cães.
Uma filha.

Solidão ficou para trás.
Solitária.
Intrépidas aventuras? Desventuras.
Desencontros, desengano.
Destino acerbo.
Aproveita-se da minha vida ventena.
Para usurpar o que tenho de valor.
Pelas palavras, o amor.
"ela precisa, e quer, ter alguém pra mudar isso, fazê-la feliz, para que seu coração não se machuque novamente"
O que é estar apaixonada?
Assistir filmes românticos e chorar como uma criança?
Sorrir sozinha, sem motivo aparente?
Cantar e dançar como se ninguém estivesse vendo?
Olhar nos olhos de alguém e ter certeza que quer olhar apenas naqueles olhos?
Sentir-se protegida do mundo (e de si mesma) em um abraço?
Escrever bilhetinhos como se tivesse novamente 12 anos?
Se estar apaixonada significa responder sim a pelo menos uma das questões acima, eu sinto muito, tenho que dizer:
Finalmente me apaixonei.

Sujeito taciturno.

- Se te julgas tão inteligente, por que tens medo de encarar tuas verdades?

É um temor imensurável, quase palpável. Não raro, não fraco. Implacável.
Medo de realidade.
Como falar de tristeza sem ser piegas? Banal, comum? Sem excentricidades, apenas mais um tristeza, no meio de tantas outras, mais uma alma solitária nesta imensa solidão comunitária. Não digna de bitafe, prosa ou poesia. Menções e canções. Cheia de rodeios, logrosa, irretorquível. Tristeza de alma, refletida no corpo, no olhar.
-Estar e ser são condições muito diferentes. 

De fato, para mim é impossível ser feliz ou triste. Estar é diferente, estar é sentir.
Mas esta melancolia que trago no peito não é vaga, ou doce - mas profunda, com sulcos que me invadem, me tomam, me tornam - amargo.

 - Deixes de ser tão taciturno, e não fujas do assunto. Não quero saber de tuas pseudotristezas.
Quero tuas verdades nuas.
Escancaradas.

Não tenho medo de encará-las. Coragem não me falta.
Me falta é argumento.

F.P.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

S2

Se você não se importa...

por que eu deveria?
Dessa vez
eu

vou me preocupar
em salvar a mim mesma.

Você encontra

Esquiva.

Sentimento e razão vivem dias de tempestade. Sinto amor e ódio. Quero perdoar e vingar. Quero me violentar e sair em busca do prazer, deste prazer que é desculpa para todos as fraquezas do homem e atrás do qual os covardes se escondem. E talvez assim ter anestesiada esta dor profunda, importante e verdadeira. Insuportável e indizível.
Meu coração é uma ferida aberta e, para meu castigo, sinto-me condenada por um crime que não é meu.Passo os dias a me inundar de afazeres, para não pensar. Passo as noites tentando adormecer na esperança de que não haja um novo amanhã.
Desejaria que meus pés já não pisassem mais este chão, que minha alma já tivesse partido em busca de paz. Sou humanamente incompetente para lidar com esta dor que me invade.
Lancinante e imensurável.

Um escrever pueril.

Dia desses, conversava eu com um amigo de infância, e quando digo de infância, não digo desde a infância, a amizade ficou lá trás, perdida entre banhos de piscina e empurrões no balanço do sítio. Passamos horas, ou pelo menos queria que fossem, a dividir histórias, memórias, tesouros que pensei ser a única a guardar.
Cada novo despertar matinal, nesta vida em que não escolhi os caminhos, traz-me apenas a intesidade que esperei na certeza de não mais querer ser adulta. O curioso é que sempre acordo com a mesma vontade de fazer tudo diferente, e, não raro, deito-me sem ter feito nada. Quem dera tivesse eu ainda as preocupações de infante. "Quantas peças faltam-me para completar o quebra-cabeças?"; "Hoje quem serei no meu bricar de faz de conta?". Sinto falta da simplicidade, que hoje mal encontro em minhas palavras.
Também raras.

Tolice.

- Empacaste?
- O vazio me emociona.
- Abandonas a fantasia de raposa e transpareces a paca que és.
- Vil realidade.

- dia 1

A raiva não passa.
Hoje a tristeza não é passageira.
Não importa quantos banho gelados eu tome, quantos copos de água com açúcar eu beba, quantos discos de música clássica eu ouça.
Hoje a raiva não passa, e nem quero que passe. Quero lembrar de você, do me fizeste sofrer. Quero chorar, me corroer.
Morrer de vontade de morrer.

Que é pra ver se isso passa -
se você passa.

E vai embora! -
pra não mais voltar.

Influenza.

Uma gripe nada inspiradora.

Arder.
Tossir.
Chorar.
Morrer.
(de rir)

Calíope.

 Pergaminho digital.

Ela permanecia,
pernas cruzadas,
rosto apoiado em uma mão
e seu precioso livro na outra.
Era feliz.

Oito.

Ainda quero ouvir a tua história,
chegar ao final e 
dizer-lhe que prefiro recomeço.

Um jovem rapaz caminha
à noite com seu cão.
Fiel escudeiro.
É tarde, tarde demais.
- vem hachi, vem!
esperar-te-ei para sempre
Pedro.
Sempre.

Incólume.

coração calcinado
esturricado
Adurido pelos olhos teus
um braseiro lascivo
fitar sofrido
Imune.

Contradictoire.

To pursuit a dream.

Há sonhos e sonhos, pessoas e pessoas.
E há felicidade para alguns.
A tristeza para muitos. 
A maioria da maioria.
A buscar o ínfimo.
Não negues. A procuras também.
Em sorrisos alheios, em passeios.
Em contracheques com poucos vinténs.
Em rimas, floretes e buquês.
E te repetes que a solidão lhe cai melhor.
Não mintas, não enganes a ti mesmo.
Aceites a tua contradição.
Não és raposa.
Mas um medíocre cão.

A vida é uma peça sem coxia.

Dedicado a alguém cujas palavras me encantam.

Abrem-se as cortinas, entra em cena o Arlequim.
A entreter as mentes vazias.
Preencher-se do ócio que emana da platéia vil.
Busca em meios aos rostos embaçados.
Uma face com lábios rubros.
Precisa entregar-se, livrar-se deste coração maltrapilho.
Desfazer-se das perpicazes fugas de insetos e realidade.
Fim de espetáculo.
O Arlequim saca um punhal,
desfere contra si um golpe certeiro.
Entrega sua essência ao público desafeiçoado.
Desfaz-se em cena.
Chega de atuação!

A Páscoa do Senhor.

Uma postagem de Páscoa atrasada.

Teu sangue em meu pêlo.
A salvação do Senhor.
Derramado apesar desta minha falta de esmero.
Deste meu desamor.
Este apego as coisas mundanas.
Possuídoras de nenhum valor.
Ainda assim,
sangras e choras por mim.
Uma raposa medíocre,
suja, hipócrita.
Indigna, pecadora.
Mas Tu és mesmo assim.
Ama aqueles que menos merecem.

Celebrada seja a ressurreição do meu Senhor.

Escarlate.

Guardava em seu pêlo
a limransa dos tempos vindouros.
Tingia-se d'ouro.
A raposinha infeliz.
Vocalizava os prantos
de vidas não-vividas.
Vida sofrida.
De morte intrínseca.
Não mais a líder do bando.
Não mais a pequena escarlate.

Então, o que será que seria, poesia.

Poesia é o acariciar do vento no meu pêlo.
Pele.
Peleja de sentimentos.
Momentos.
Inesquecíveis, encantadores.
Dores de amor e de rubor em tua face.
Ah, se fosse eu da tua boca o carmim.
Para que estivesse em você como estás em mim.
Minuciosamente cativante.
Seguindo avante com indagações mil.
Milagre seria se não quisesses ser do mundo.
A fundo, pergunta e resposta de tudo.

Palato Divino.

Observo o firmamento.
Ele me parece hoje, tão mais bonito.
O vozerio ao meu redor não mais amofina-me.
Basta-me fitá-lo.
Com seu azul-infindo.
Gosto do céu assim, à noite.
Com vontade de ficar nublado.
Uma pintura olímpica.
Lembra-me os dias no campo.
No anfiteatro das vidas passadas.
Vida de cão.

Como se supera a perda de um filhote?

Foste concebido por amor.
Vi meu corpo mudar enquanto crescias dentro de mim.
A alegria de ver teus olhinhos brilharem, sorrindo para os meus.
Superou a dor de seu nascimento.
Cada passo que davas, cada palavra que aprendias.
O teu primeiro "mamãe".
Momentos que nunca esquecerei.
Teu primeiro dia na escola, a independência reluzindo em teu olhar.
Como eu queria que fosses mais dependente.
Crescias, metade de mim, cheio de mim.
Ensinaste-me a amar incondicionalmente.
Agora estou aqui, contrariando a ordem natural da vida.
A velar teu corpo miúdo.
Acariciando tua pequenez agora pálida.
Oh, destino injusto.
Apagaste o rubor da face do meu anjinho.
O fizeste voltar aos braços do céu.
Cedo demais.
Cedo demais.

Raposas não são domesticáveis.

Não importa o quão cativante sejas.
Indifere o teu zêlo.
Teu pelo, roçando no meu.
Tua pele tão macia.
Tão humana.
Teu corpo quente.
O teu arfar.
É irrelevante esta tua vontade de me possuires.

Raposas não são domesticáveis.

Mi casa es tu casa.

Estranhou a falta de terra? Sem vegetação camuflando a entrada da toca.
Porque o meu esconderijo é a céu aberto, com o vento escovando o pelo.
Não me escondo de predadores, com estes sei lidar mui bem.
Sou, por natureza caçadora, de aventuras e liberdade.
Uma alma selvagem. Uma raposa alada.
Voando com as asas que as palavras me deram.

Este é mais um lugar para ouvir as intrépidas aventuras da Raposa.

Bienvenidos a mi guarida.